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Após algumas semanas sem contato com os leitores, seja por
envolvimento na reta final da dissertação ou até mesmo em assuntos
profissionais e familiares, é hora de restabelecer as nossas conversas
semanais. Afinal, os assuntos debatidos nas últimas semanas no país
proporcionam inúmeras análises.
Começando pelo
recebimento das delações da Odebrecht, por intermédio do Supremo Tribunal
Federal, na pessoa do Ministro Edson Fachin, que vem sendo carinhosamente
designada da "delação do fim do mundo."
Como tenho costumado
fazer, inicio o debate a partir de um questionamento: quais as grandes
novidades trazidas nas delações da Odebrecht?
Para facilitar a
resposta, lanço três alternativas:
a) nenhuma; b) muitas; c)
uma.
Independentemente da
sua resposta inicial, ouso apontar que as delações estão trazendo à público
apenas "uma" grande novidade: embora
do ponto de vista jurídico as atitudes descritas pelos executivos fossem
consideradas crimes, tudo ocorria de uma forma tão natural, comum e porque não
dizer há tanto tempo, que aqueles mais antigos até poderiam concluir que era
uma conduta esperada/aprovada pelos eleitores, pelas empresas privadas e até mesmo
pela máquina estatal.
De acordo com os nomes
e as posições políticas que estão aparecendo, todas as esferas do Poder
Executivo e Legislativo foram contaminadas. Governadores, Senadores, Deputados,
Ministros e Presidentes foram inseridos no contexto da corrupção, do caixa 2 e
da lavagem de dinheiro.
Pelo que vem sendo
traçado, poucos serão os políticos que ficarão livres de acusações de idêntica
natureza. Afinal, sempre se questionou qual seria a lógica de alguém se
candidatar, receber doações de empresas para se eleger, gastar mais do que
possivelmente ganharia, apenas para supostamente defender os interesses do
povo.
As delações trouxeram
de forma até muito natural quem ou o que seria realmente o "povo" na
linguagem dos políticos. A suposta "direita" se uniu com a suposta
"esquerda" em um plano que teve como principal finalidade arrecadar
dinheiro de forma “contabilmente” legal ou não, em troca de benefícios que o
poder poderia e poderá gerar, afastando do Estado a preocupação com a educação,
a segurança, a saúde e a economia. O intuito dos políticos era beneficiar o
"seu povo".
Graças a tudo isso,
hoje temos um Brasil quebrado do ponto de vista financeiro, desacreditado no
cenário econômico, com uma elevada quantidade de desempregados, índices de
violência gritantes, a educação em péssimas condições e a saúde literalmente
pedindo socorro.
Em contrapartida, em
que pese a maior parte da população que possui emprego receber um salário
mínimo, assistimos os milhões e bilhões sendo negociados de maneira livre e
despreocupada, já tendo se falado em um montante de 3,4 bilhões de dólares que,
quando convertidos pelos atuais R$ 3,14, resultam em 10,67 bilhões de reais,
que foram livremente retirados dos cofres públicos e estão fazendo muita falta.
Outra constatação
interessante é que, para fazer cumprir os princípios constitucionais do devido
processo legal, da ampla defesa e do contraditório, dificilmente haverá tempo
até 2018, ano de eleição, para julgar todos os possíveis envolvidos nos atos de
corrupção. Afinal, a prática de diversos atos processuais será necessária.
Portanto, restará ao
"povo", no conceito de população brasileira que sofre com todos esses
desmandos, antecipar-se ao julgamento jurídico e fazer o julgamento político, excluindo
do poder todos aqueles que há anos vêm trabalhando exclusivamente para o
"seu povo".
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