Em razão
da proximidade de uma curta viagem profissional, iniciei o dia um pouco mais
cedo, tendo despertado às 5h10min e, de imediato, seguido para a academia.
Vencida a primeira hora do dia e cumprida a meta de exercício, às 8h já estava
acompanhando meu filho no inglês e, no intervalo de 1h de espera, iniciei os
primeiros contatos via whatsApp, e-mail e telefone, tudo isso em busca das
providências previamente programadas para o dia.
De
repente, ao chegar a escritório, veio a surpresa que motivou a escolha do
título: você já imaginou como seria a VIDA sem a INTERNET?
Na minha
profissão de advogado, percebo atualmente uma completa dependência da internet.
Afinal, são pelo menos 100 (cem) e-mails diários, necessidade de acesso aos
sistemas de acompanhamento de processos, leia-se e-saj, PROJUDI, PJe do 1° e 2°
grau na Justiça Estadual, PJe e CRETA da Justiça Federal e PJe do Conselho
Nacional de Justiça. Além disso, para o acompanhamento processual interno,
temos o SIJAF e a rede interna, cujos acessos também dependem de internet.
Pois bem.
Ao ligar o computador para dar início à produção, eis a surpresa de perceber
uma certa lentidão nos seus atos, que foi seguida da falta de acesso à
internet.
Confesso
que após sentir o estresse inicial, principalmente por perceber que estava
literalmente de mãos atadas, parei um pouco para relembrar como era a vida
quando não possuíamos a internet. Inclusive, logo cheguei a interrogar: será
que era mais tranquila?
O Diário
da Justiça era em papel e todo estagiário que se preze iniciava o dia com a
leitura completa em busca dos nomes dos clientes e advogados que integravam o
escritório. Aqueles mais interessados não dispensavam a leitura das sentenças
que lá eram publicadas. Era a melhor forma de se manter atualizado com a
jurisprudência.
A visita
ao Fórum, que ocorria quase que diariamente, tinha como finalidade buscar
informações a respeito do andamento dos processos, que eram descritas em fichas
de papel que continham a sua localização, além de possibilitar a realização das
cargas.
O
ajuizamento das ações era feito através de uma visita ao cartório distribuidor,
seguida do questionamento a respeito de qual seria a Vara que estava na vez,
possibilitando assim a escolha do Juiz para a sua causa.
As
pesquisas eram feitas através da leitura das revistas dos tribunais e das
famosas LEX, revista que trazia a jurisprudência mais atualizada do país. Todo
escritório de renome tinha obrigatoriamente que possuir uma imensa biblioteca.
As
petições eram elaboradas com uso de máquinas de datilografia, as quais foram
sucedidas pelas máquinas elétricas que, ao trazerem a possibilidade de
retificação do texto, revolucionaram o mercado.
A
impressão que tenho é que, naquela época, éramos forçados a fazer uma coisa de
cada vez; errávamos menos ao datilografarmos um texto, na tentativa de evitar
refazê-lo; falávamos mais calmamente ao telefone fixo e ainda deixávamos
recados; recebíamos menos parabéns no nosso aniversário, pois somente os amigos
próximos se recordavam; decorávamos os telefones dos amigos e familiares; as
leituras eram mais assíduas; conhecer as principais notícias por intermédio um
jornal diário era obrigação; escrever uma carta e se dirigir ao Correio para selá-la
e remetê-la era o máximo; enfim, a nossa vida era mais lenta.
Atualmente,
alguns detalhes sempre me chamam atenção. Fazemos pelo menos 3 (três) coisas ao
mesmo tempo, erramos mais ao redigir, o telefone fixo praticamente passou a ser
exceção; recebemos centenas de parabéns no nosso aniversário, porém poucos
através de uma ligação telefônica ou até mesmo o contato pessoal; não decoramos
mais o telefone de ninguém; lemos menos e as empresas responsáveis pela edição
de jornais impressos estão fechando; receber uma carta é exceção, salvo de
cobrança.
As boas
conversas estão sendo substituídas pela troca de mensagens e imagens; não
curtir ou não comentar a foto de um amigo virtual poderá ser sinônimo de
desatenção e/ou falta de consideração; nossos filhos têm que possuir horário de
uso de telefones ou tablets limitado; não anotamos mais recados, simplesmente
passamos um whatsApp; a utilização de uma linguagem dita “cibernética” tem
afastado completamente o bom português; enfim, vivemos uma nova era.
Não posso
dizer que sou contra tudo isso ou até mesmo que nada tenho feito para
acompanhar a dita evolução. Na verdade, na medida do possível, estou tentando
ser considerado atualizado. Porém, uma coisa é certa, embora não tivéssemos as
facilidades que uma pesquisa no Google pode proporcionar, tínhamos uma vida
menos acelerada e, por consequência, menos estressante. Para atarmos as mãos e
perdemos um dia de trabalho tinha que ocorrer uma doença grave ou a falta de
energia, nunca a queda do sinal da internet.
Eis uma pequena reflexão sobre a vida moderna, o
que nos remete a imaginar como seria a VIDA sem a INTERNET.*artigo publicado na Revista Ritos, editada pela Associação dos Magistrados do Rio Grande do Norte - AMARN, ano XI, n. 14, dezembro/2016, páginas 40/41.
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